quarta-feira, 16 de março de 2011

And after the goodbye... I'm here, again'

Antes de mais nada é necessário explicar como surgiram todas essas lembranças. De pouco recordo datas exatas, horas exatas, momentos exatos. Apenas conto tudo aquilo que um dia deixei guardado nas caixas antigas, aquilo que um dia esteve gravado na pedra de minha memória. Hoje entre os pequenos fragmentos de papel, encontra-se também poeira, lágrimas que foram recolhidas, e marcas de diálogos que um dia sonhei. Típicas palavras que nunca saíram, guardadas em todos os lugares, em letras miúdas, que se transformaram na minha história. Não sei dizer se é exatamente a minha história, ou se meus manuscritos baseiam-se apenas naquilo que desejei chamar de 'Minha Hisória'.
Hoje, estive revirando meu baú. Meu antigo baú de sonhos e encontrei ali passagens que, mesmo já tendo as contado, não estavam mais em minha mente. Vi sinais de algo que nunca tive, pessoas que estavam em minha vida e acabei perdendo com o passar das conversas. E pessoas que um dia, encontrei na rua e transformei em parte de minha vida. Quem sabe, você pode estar aqui, entre pequenas e inusitadas manias que se transformaram em todo esse meu particular universo paralelo.
Pouco me lembro. Ás vezes observo os retratos que, - retirados do fundo de meu baú - e espalhados pelo longo corredor,  me pergunto se um dia já fiz parte deles. Me pergunto quem são as pessoas que fizeram parte deles. Vejo alguns retratos negros, onde a escuridão não me permite identificar faces, ou expressões. Vejo retratos claros demais, que, de mesma maneira não me permitem lembrar o momento que os construi. Penso se aquela com os cabelos sedosos e olhos brilhantes, realmente era eu. Tenho saudades de quando ainda tinha controle, não só de minha vida, mas de todos aqueles que apareciam nas fotografias. Observo então o meu reflexo no espelho, e lá estou – com meus cabelos, agora escorridos de forma desparalelada, meus olhos, com o mesmo formato porém não mais o mesmo brilho, e um sinal de sorriso morno escondido entre a falta de maquiagem.
Sinto medo, angústia, e o nó guardado há tanto tempo em minha garganta seca. É, eu sabia que o sentiria ao abrir meu baú, mas era necessário. Arranha de forma como se já fosse costumeiro, tento ignorar.
Continuo procurando entre as caixas, tudo o que poderia ser útil para escrever essa história, mas encontro apenas as mesmas palavras, as mesmas lembranças de noites que caminhei sozinha, ou de noites que estivesse embalada por qualquer  pensamento inútil, ou ainda, banhada em meu próprio oceano salgado de lágrimas desperdiçadas. Leio os diários que escrevi durante todas as vezes que me senti como se estivesse sob poder de substâncias alucinógenas, ou, em outros, das vezes em que escrevi o quanto me sentia bem vendo o céu azul celeste que tanto admiro. Em um deles, comento sobre as telas escuras de meu quarto. As folhas de papel rasgadas pelo chão com minhas melhores composições, as cortinas fechadas, e eu, em minha poltrona azul, chorando com o cabelo nos olhos. Deparo-me com o fato de que estou sentada agora na mesma, e dessa vez, a sala iluminada pela luz natural, a mesma poltrona azul no canto esquerdo servindo me apoio para meu violão vermelho contrastando, e minhas novas e claras telas de tinta comum, transformaram meu ambiente de forma que não parece mais tão assustador assim.
Sentia-me sozinha nessa época ruim porém estava acostumada com o fato. Certas pessoas não nascem para amar – alguém disse isso uma vez. Não me lembro não me lembro de nada.
Gostaria de explicar melhor do que se trata essa minha louca desventura sonhada, apenas não encontro palavras exatas para descrevê-la. Com o passar do tempo, - e quanto tempo! - minha arte de dominar as palavras também acabou por se corromper.
Tento lembrar exatamente como vim parar mais uma vez nesse lugar, que agora me parece tão estranho entre tantas caixas e fotografias. Apenas recordo de estar deitada em minha cama e de sair caminhando pela casa, enquanto refletia sobre nossa despedida. Hoje, doeu como nunca, ardeu em todas as partes de meu pequeno e agora tão frágil corpo. Encontrei cada diário em um cômodo da casa, jogados pelos cantos, entre as mobílias desgastadas. Alguns pedaços de cartas e papéis com anotações dentro deles. Cada palavra parecia me corroer mais profundamente, como se estivesse numa louca expedição para conhecer melhor cada parte de minha essência. Confesso que no começo tive medo de lê-los, poderia me deparar cada vez mais, com as partes podres que falavam das coisas que fiz por amor. Só então depois de juntar todos os diários, todas as cartas e todos os pedaços de papéis escuros e rasgados, cheguei ao meu baú. E o abri. Mais uma vez depois de tanto tempo. Mais uma vez sinto lágrimas rolarem em minha face ao me deparar com as fotografias, mas dessa vez pelo menos, sei que me sinto vitoriosa por ter vencido esse combate comigo mesma.
Recolho então o último pedaço de papel, preso ao espelho no final do corredor. "Você ainda vai viver, sem sua própria mentira". Duas lágrimas caem sem que perceba, escorrem faceiras em minha fronte. Consigo sorrir novamente. Agora, eu vivo sem minha própria mentira, e sem a mentira dos outros.  
Depois de conseguir juntar todos os fragmentos de bilhetes, histórias e fotografias, e de jogá-los aqui, esvaziei meu baú, jogando ao vento tudo o que estivera trancado, e que me fizera tão mal por todo esse tempo. Agora, meu baú está aberto. Mais uma vez esperando as novas fotografias, os novos bilhetes... Esperando a nova vida que eu ali, vou guardar.


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