domingo, 15 de maio de 2011

Por todas as primaveras [...]

E hoje, sempre quando caminho pela areia molhada, tenho a sensação de que ele está comigo. Sinto sua presença em todas as brisas suaves, vejo seus olhos lavados em todas as chuvas de novembro. Procuro abstrair as lembranças que trazem consigo esse transe melancólico, mas não consigo. Não sei se ainda o amo, ou se me arrependo de todo o mal que lhe proporcionei.

Foi em uma tarde de setembro. Fui passar o fim de semana com meus pais no litoral. Lembro-me que quando eu era menor, costumávamos fazer grandes reuniões de amigos em feriados e datas especiais, hoje, só me restam às lembranças. Eu estava no terceiro ano da universidade. Era uma pessoa razoavelmente feliz, antes de perdê-lo, ou talvez, antes mesmo de conhecê-lo. Aquele dia, eu caminhava tranqüilamente pela praia. A brisa soprava levemente meus cabelos que acariciavam meu rosto, e, ao mesmo tempo desmanchavam minha rotineira trança raiz. Fechei meus olhos por alguns segundos, apenas para ouvir o barulho do mar. Deitei-me na areia. As nuvens e as nuances do céu formavam figuras abstratas, em tons rosados e alaranjados. A praia estava praticamente deserta. Fiquei surpresa ao ver uma pessoa ao longe. Ele estava sentado, ao alto de algumas rochas. Reparei que apreciava a quebra das ondas abaixo de si de uma forma um tanto peculiar. Chamou minha atenção, então, me aproximei sutilmente. Subi a rocha lentamente. Confesso que não acreditava em destino, até ver a fita vermelha que prendia o fim de minha trança, se desprender, dançar pelo ar e cair no mar, ao seu lado. Ele se virou, e me olhou com certo desprezo.

Apertei minhas mãos, e me aproximei. “Olá” disse com certa melancolia. Ele me olhou. “Sinto muito pela sua fita” disse, sem fitar-me diretamente. “Não tem problema.” Houve uma longa pausa entre nós. Nesse momento um prévio feixe de luz focou seus cabelos escuros. A Iluminação era favorável, e se eu recuasse um pouco, conseguiria enquadrar o pequeno barco pesqueiro ao fundo. Seria uma foto perfeita. “Desculpe-me, mas nunca te vi por aqui antes.” Continuei, depois de recuar por alguns instantes. O silêncio era desesperador. Ele apenas admirava as ondas. Não demonstrava emoção alguma. Sua face sem expressão despertava, a cada segundo ainda mais o meu interesse – ou curiosidade – sobre aquela figura. Foi quando percebi estava sentada ao seu lado. É impressionante como quando agimos com a emoção, não damo-nos conta de nossos atos. Ele tinha um par de olhos escuros, pequenos e oblíquos, sua iris lembrava-me uma amêndoa. Um par de olhos amendoados, oblíquos, pequenos e dissimulados. “Nunca estive aqui. É a primeira vez.” “Ah... Eu moro aqui desde pequena, porém ando distanciada da natureza de uns tempos pra cá.” Fez-se novamente um longo silêncio. “Entendo, o lugar é lindo, me deixa inspirado” “Inspirado?” “Sim. Mas não sei ao certo para que. Ah, como sou afobado! Que indelicadeza a minha, chamo-me Octávio.” “Ah, digo o mesmo, me chamo Anna. Anna Lívia.” Sorri. Ele ainda não me olhava nos olhos. “Desculpe-me, mas preciso ir,” Disse. “Sem problemas, contudo, só queria saber como está. Sei que não diz respeito a mim, mas não o sinto muito bem” “Há muito tempo não sei o que é me sentir assim.” “Por quê?” Iniciou-se uma conversa pouco mais ritmada. “Perdi tudo o que tinha. Perdi minha vida.” Ele falou, ainda observando o movimento do mar. Olhei-o fixamente. Nessas horas não há muitas opções sobre o que dizer.

“Nossa vida é como o mar Octávio. Sempre o mesmo mar, porém nunca a mesma onda.” “É, você tem razão. Apenas não sei como agir na maioria das vezes, não sei como formar as ondas no mar da minha vida”. Aquelas palavras mexeram comigo de uma forma indescritível. Eu sentia que precisava ajudá-lo, mas não sabia como. “Faça aquilo que vem do coração, pois isso sim será um gesto verdadeiramente puro. Fazendo isso não há como ficar insatisfeito, amargurado, angustiado, ou sufocado.” Falei sem entender se quer uma palavra do que havia metralhado. “Eu agi com o coração Anna. Por isso estou aqui.” Aquelas palavras despertaram ainda mais minha curiosidade sobre aquele pequeno ser, abaixo agora de um céu cinza escuro, e diante da imensidão do mundo. “Quer falar sobre isso?” “Não sei.” Houve uma longa pausa mais uma vez. Uma pausa sentida. Dessa vez, acho que ambos não sabíamos como agir. “A verdade é que palavras bonitas são descartáveis perto de atitudes estúpidas.” Ele começou. “Não sei onde ouvi essa frase, mas não consigo tirá-la da minha cabeça.” “O que fez você vim até aqui?” “Eu vim de longe. O que me trouxe aqui? Não sinto mais vergonha de dizer, mas foi o medo. Ninguém abre a porta, mas ele entra assim mesmo. O medo se instala em nossa vida e nossos olhos passam desconfiança. E de todos os medos existentes, acho que os mesmos se baseiam e nascem apenas em torno do medo de não sermos amados.” “Fugiu por medo?” Indaguei. “Não dessa vez.” Fez-se um longo silêncio novamente. “Eu parti uma vez, por medo. Quando voltei, não mais a encontrei. Foi quando ela partiu. Não sei o que aconteceu com ela, onde ou com quem ela está, não sei se realmente me amou um dia. Ela, apenas sumiu. Talvez porque, antes de tudo, eu a abandonei. Desculpe-me Anna, mas preciso ir agora.” “Claro. Espero que consiga encontrar mais uma vez seu caminho.” “Obrigado” Disse, com a cabeça baixa. Ele se levantou, ia se distanciando quando se virou apressadamente. – Se eu conseguisse uma foto nesse instante, seria perfeita, pois o céu num tom cinza escuro encontrava – ao meu ângulo – o mar enfurecido. Mas ele... Ele ficaria em primeiro plano ainda, como se completasse, ou ainda, como se fosse o elemento principal do cenário. “Será que você poderia dar-me um abraço?” Perguntou um tanto inseguro, porém com um notável ar de coragem e precisão. Eu apenas sorri. Um sorriso morno, um sorriso terno. Esse é um daqueles momentos que, mesmo que você tente jamais acerta a expressão de sua face. Aproximei-me calmamente e o envolvi em meus braços. Ficamos assim por alguns segundos. Ele me olhou, - pela primeira vez naquela tarde - retribuiu o sorriso, e partiu.

                                                                                          'Quando eu vi você chorar'

domingo, 8 de maio de 2011

E em meio as constelações [...]

Por que as vezes sentimos que as pessoas estão longe de nós mesmo quando estão ao nosso lado todos os dias? Essa noite peguei-me pensando em você, novamente. Era o mesmo lugar, a mesma poltrona azul, a mesma sala escura, a mesma trilha sonora, porém o brilho era outro. O que fizestes comigo? O que eu fiz contigo? Por que mudamos tanto minha pequena criança?
Essa noite lembrei-me de quando sentamos ao crepúsculo para oobservar o surgimento das primeiras estrelas no céu. O movimento singelo de cada uma. Você acariciava meus cabelos, e não queria partir. Lembra?
Nesse momento, meus sentimentos então foram envoltos por uma nostalgia inexplicável. Eu estava diante do espelho, e mesmo sabendo que era eu mesma, era difícil reconhecer meu próprio reflexo.
Passou então diante dos meus olhos todas as cenas de suas crises de ciumes. O modo o qual você mexia suas sobrancelhas, e procurava sorrir para manter a aparência, porém ao virar-se apagava seu sorriso e desmascarava uma lágrima que rolava sem permissão. Sei que você imagina que eu jamais reparara, mas era tão único seu jeito de fazer isso, penso que depois do seu olhar tímido e de sua boca bem desenhada, é a caracteristica que melhor lhe cabe.
Se lembra ainda de quando você olhou em meus olhos e disse "você é tudo o que tenho?" parece que faz tanto tempo não é mesmo? Eu era tudo o que você tinha. E o que sou hoje? O que você é hoje? Eu não entendo o motivo de tantas questões assombrarem meu interior. Chego a pensar as vezes que parece o fim do nosso jogo. E machuca, dói, sangra. Sangra tanto que chega a escorrer pelos meus olhos, chego a transpirar dor, medo. Medo de deixar de ser sua pequena estrela. E por incrível que pareça, mesmo com esse medo que me move, tenho a esperança de que você está ali, do outro lado envolto em sentimentos, olhando para o céu, e me buscando em meio as demais constelações. Não, ainda não é o fim do jogo. É penas um ataque. E eu resisti.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Esperando Entretanto Entrelinhas [...]

Olho para trás e reparo tudo o que já me ocorreu. Não é tempo, como os que outros têm. Mas foi suficiente para decepções ocorrerem. Entre essas, houveram também recordações quais faço questão de guardar o mais perto possível. Desde o primeiro brinco de ouro, até as últimas compras de inverno. Um sorriso, uma borboleta na barriga. Uma música e um pequeno trecho. Olhos que guiaram dias consecutivos, e olhos que partiram repletos de lágrimas. Em tão pouco tempo, aprendi a ser forte. Muitos ainda julgam como indiferença, porém, consigo garantir que é apenas uma sólida barreira. Depois de tanto sofrimento, tantos momentos que senti vontade de sumir, a barreira já é parte essencial. Ela que me ensina e protege de tudo aquilo que poderia vir me destruir. Mesmo com tanto que vivi, com o tanto que ainda ei de encontrar, pergunto-me se cada passo incerto valeu a pena. Cai, levantei-me a caminhar. Não sei ao certo por quanto tempo ainda viverei nessa rotina. De recomeços, encontros e desencontros. Este, é só mais um. O primeiro em alguns quesitos, talvez até mesmo o último em outros. Contudo, é único, como todos os que deslizaram em minhas lembranças.
Desisti de voltar atrás, de procurar sonhos perdidos, amores esquecidos. Segurei minha respiração, observei sutilmente as marcas que deixou, provando que fora o real culpado. Você é o problema e não consegue assumir isso, não consegue gritar para o mundo ouvir. Vive me culpando de algo que não consegue entender. Mesmo depois de toda esta angústia que me causou, ainda não aprendi a viver sem você. Posso fingir que estou bem sem a sua presença, mas ainda assim, não me conformo que você é exatamente o que eu nunca conseguiria imaginar. É surreal. Vazio. Confiar em você foi apenas uma defesa, agora luto para que simplesmente esteja em uma lista qualquer, sem sentido algum, rasgada em pedaços e jogada com a solidão. Quando essas memórias se forem, espero ter uma visão melhor da realidade, convencer-me de que nunca passou de um consolo superficial. Só tenho medo de pensar em você, no inútil que se tornara. Fugi, ainda não achei o caminho para casa. Nessa casa, nesse lugar, memórias.
                                                                                                         - Upon the Sky



sábado, 9 de abril de 2011

Sonhar em um céu semi-estrelado (...)

Sonhei contigo noite passada. Não decidi ainda se foi como um sonho, pesadelo não, pode ter sido apenas nostalgia. Sabe quando as lembranças atingem seus pensamentos e então ficam revirando até você acreditar que aquilo era um sonho? Pode ter sido isso também. Ainda não me decidi qual a intensidade. Só era real. Ao menos parecia. Eram momentos que havíamos passado. Teu olhar profundo e amendoado, negro. Teu olhar brilhante no mesmo instante em que nos falamos pela primeira vez. Teu olhar formando lágrimas prontas para o suicídio, enquanto falávamos de nossas histórias. Teu olhar quando me beijava e afirmava o quanto queria aquilo. O quanto passou querendo a tarde toda. Teu olhar quando contei que não estava mais com ele. Tua felicidade era evidente. Teu olhar quando disse que estava bem comigo. Teu olhar tímido quando perguntavam se estávamos juntos. Teu olhar quando me contou que estava com ela, e quando viu o quão mal eu fiquei por isso.
Era teu olhar, todos os jeitos e ângulos, que me assombraram enquanto caminhava para casa. Até que repousasse sobre os lençóis, e aí sim, teu olhar começou a brilhar como uma faca, e parecia que queria me ferir, brilhava, doía. Ainda assim, dormi sorrindo por lembrar. Pensando que talvez você lembrasse da sua pequena estrela. Estrelas são complicas, não? Cada uma segue o ritmo de sua constelação, não costumam mudar de posição, mas dependem da forma com qual você olha para as mesmas. As vezes estão lá, brilhando e brilhando e brilhando. As vezes você simplesmente não as encontra. Sabe o que é mais incrível de tudo isso? Por mais que durante uma noite, você não as encontre. Por mais que durante muitas noites, você não as encontre. Algum dia, em algum lugar, de maneira que nunca imaginou, lá estarão, te esperando da mesma forma que havia visto durante a última noite.
Penso se vai ser a mesma coisa, se nós dependemos da forma com qual fitamos nossas realidades. Talvez, te encontre de alguma outra forma e teu olhar me assombre como o desconhecido. Enquanto isso, fico me perguntando se teus olhos continuam negros e profundos, se teu sorriso continua morno e desalinhado, se teus cabelos continuam sedentos de carinho. Se tua vida, ainda é minha. Ainda me pergunto meu querido se um dia, você voltará a brilhar.

                                                                                                                                    - Upon the Sky

sábado, 26 de março de 2011

The Strangers;

Não se sabe quando surgiu, ou daonde veio. Ou qual seu nome. Não se pode descrever, e está além da capacidade de entendimento, não sei se a minha - e dele - ou também das pessoas ao nosso redor. Só sei que chegou manso, andando em minha direção com algo diferente em seu olhar, um brilho que nunca havia fitado antes. Caminhava de uma forma engraçada, meio desnorteado, como se também não tivesse controle do que estava acontecendo ali. Apenas sorria e sorria e sorria. Sem parar. Tinha um sorriso divertido, que contagiava todas as pessoas ao seu redor. Aquele sorriso que contagiava por mudar com uma facilidade impressionante, e conforme sua mudança, mudava também o sentimento que expressava com suas linhas simples, e marcantes. Agora, o desconhecido mesmo não era a figura em si, mas o sentimento que ela passava. Possuía uma essência de paixão, um toque leve de felicidade, contornado pela ansiedade natural dos antigos enamorados.
Não é comum, é diferente das outras vezes. Talvez não tão intenso, porém mais marcante. Não é paixão no sentido exato da palavra, porém talvez possa se tornar amor com o passar das tardes ensolaradas. Observei a necessidade de contar o que sentia, dias atrás. Aquela necessidade de esclarecimento, para que então, possa continuar contando minha história – atual. E real, pode-se dizer. Algo dentro de mim estava pronto para essa mudança, bastavam que algumas pequenas fagulhas de sinceridade retornassem a minhas mãos.
Agora, o que mais mexeu comigo, foi saber que pela mente dele, passa o mesmo. A sensação do desconhecido, uma espécie de medo do novo também, e essa mistura de sentimentos que teimam em brigar entre si, e se desnortear, de forma que ambos não possamos entender o que sentimos, e as dimensões que esses novos, - e reais - sentimentos possam nos trazer.
Bem, e por mais preciso que isso possa parecer, a mescla de sentimentos em si, me mudou de certa maneira, mas o principal ponto foi a tranformação do ambiente em que eu, particularmente, vivo. Gosto de chamar de paraíso, pois agora aos meus olhos, em meu mundo não há complicações, os dias não possuem fim de forma que o céu celeste que tanto desperta meu interesse sempre está a vista, brilhando intensamente. A noite? Bem, a noite não chega. Ou, quase nunca chega, por isso é esperada com clamor por todos, apreciada raridade. Não surgiam apenas estrelas cadentes e luas com seus ciclos, sempre havia uma surpresa, um nascimento de um novo ser repleto de luz.
Eu sei, parece loucura aos olhos de pessoas normais, mas eu sendo anormal de minha maneira, desejo que isso não passe. E por isso, não me importa o que você se tornou, ou o quanto mudou. Não me importa o que eu me tornei, o quanto ou o porque mudei. Me importa que você esteja aqui uma vez, e outra, e outra. Importa que a felicidade bata novamente a nossa porta. Importa (…) que te amo.


 

sexta-feira, 25 de março de 2011

My Fear...

Não sabia ao certo o que fazia naquele lugar, tudo parecia manter-me mais e mais deslocada. Não havia espaço para meus cabelos desgrenhados, ou para minhas calças desbotadas. Não havia espaço para meus sentimentos sinônimos de angustias. Muito menos, não havia espaço para minhas agonias. Aquele definitivamente não era meu lugar, sequer sabia como havia parado ao meio de todas aquelas imagens surreais de pessoas sem defeitos. Pensava se era mesmo capaz de existir alguém assim. Notei que não. Deviam esconder embaixo de suas lágrimas, algumas mentiras, algumas impressões que omitiam. Apenas não era real. Nada ali demonstrava essa realidade.
Eu estaria sozinha agora, pois deixara para trás todo o tesouro que carregava escondido em cartas, as quais recebiam um lugar especial em meu baú. Eu estava ali, diante de uma nova história, diante de um novo futuro, e por mais que a tristeza estivesse já esculpida em minha face, uma certa melancolia rasgava meu interior.
Nesses últimos dias, acho que virei especialista em medo. Acho que já senti todas as emoções fortes que existem, mas o medo... O medo é a maior de todas. Nada é tão intenso, nem nos atinge tão profundamente quanto o medo. Ele toma conta da gente, como nenhuma outra emoção faz. É um tipo de doença, uma febre que nos domina e que maltrata o nosso corpo, e dói. Mas é uma dor tão profunda, que como todas as fortes dores possuem anestesia própria. Eu tenho meus truques para manter o medo sob controle, acho que cada um tem os seus, mas isso só funciona para os medos menores. Quando o medo de verdade invade a gente e o pânico abala nossos alicerces, não tem defesa que resolva. Porém, como John Marsden diz, prefiro sentir medo a sentir tédio. Pelo menos quando sentimos medo sabemos que estamos vivos. A energia corre pelo corpo da gente com tanta intensidade que transborda em forma de suor. O coração bate desenfreado dentro do peito, não sobra espaço para mais nada. A gente se esquece do amor não correspondido, se esquece do joelho que tomou uma pancada, e do dente que dói. Esquece do passado e esquece que existe uma coisa chamada futuro. Meu medo, esse medo do desconhecido que sinto agora, parece que omite minha identidade. Me sinto suicida, viciada em sentir pânico, me sinto sob o poder de algo mais forte do que eu. Quem sabe seja mesmo, ou não talvez. Apenas conhecerei o desconhecido quando chegar a hora. Ai talvez, o medo passe.

quarta-feira, 23 de março de 2011

And now?

Acordei, e devido a certo receio, tentava permanecer com os olhos fechados pelo máximo de tempo possível. Passaram-se horas, e horas, e horas. Continuava ali enrolada em meus edredons, com medo de que tudo fosse diferente. Não queria despertar para meu maior pesadelo, outra vez.
Insistiram, pediram para que eu me levantasse. As vozes pelo corredor cada vez iam se tornando mais altas, pensei que era um jeito de fazer-me despertar por completo. Abriram as cortinas para que o sol entrasse em meu quarto. Mas nem mesmo o dia mais bonito, com aquele céu azul que tanto admiro, sem nuvens, apenas brilhando a cor celeste, nada disso conseguiu tirar-me da cama. Eu sentia medo, e não queria contar a todos sobre o medo que tinha. Iam dizer que era bobagem, que era invenção de minha mente, que era muito pouco para sofrer, que logo ia passar... Porém, em meu coração, era muito.
Quando abri os olhos, corri para a tela do meu celular: nenhuma ligação, nenhuma mensagem. Continuei olhando fixa para o visor, esperando que alguma notícia chegasse a qualquer instante. Sentei-me em minha poltrona azul, e comecei a reparar como tudo ao meu redor havia perdido a cor. As vidas pareciam mais apagadas, desbotadas, escuras. Não tinha vontade de sorrir, de me arrumar, de viver. Todos ao meu redor começaram a perguntar o motivo daquela tristeza, porém eu ficava calada.
Outra vez, acabei notando como a sua presença me fazia mais feliz, por mais subjetivo que isso parecesse. Só queria estar com ele para sempre, não soltá-lo, não deixá-lo partir. Ele longe, só comprovava novamente o que já tinha em mente – ele era minha vida, e isso, não podia negar. Agora, será que foi certo ele saber disso?

domingo, 20 de março de 2011

His almond eyes, my gaze forbidden, two spontaneous smiles.

Fitava-te de canto, como se não fosse digna de uma olhada completa. E penso que realmente não era, pois não podia de maneira nenhuma fitar teus olhos da maneira que fazia.
Aquele teu sorriso, a tua risada que ecoava. Era como se todos os meus sentidos acabassem sendo desnorteados pela tua simples presença. Justo eu, que jamais me imaginei nessa situação, naquele instante, soube que algo estava acontecendo. E já acontecia há tempo, por sinal. Só tinha medo de notar como era real. Tinha medo de ser como todas as outras tornar-me dependente de alguém. Não me parecia certo, mas estes pensamentos só duravam até você abrir seu sorriso com seu olhar amendoado - agora aberto - , e inevitavelmente, tinha de retribuí-lo. Não sabia o que pensar, ou como agir, e acho que mais errava do que acertava também, já que não conseguia seguir o roteiro escrito em minha mente. Só queria conquistar cada traço seu, cada pequeno pedaço. Ainda que isso demorasse, parecia estar disposta para o tempo que fosse necessário. E essa sensação era totalmente contrária a todas as outras. Era como uma certeza, de que só você poderia me completar. Não podia suportar a ideia de te perder para qualquer outra, que desconhecesse teu valor, simplesmente não podia. E por isso, não cansava de sorrir, de tentar te fazer um pouco mais feliz ao meu lado. Se consegui não sei, mas você conseguiu fazer-me feliz nesses momentos. Precisava te mostrar como poderia ser diferente contigo, como poderia abrir mão de todas as outras coisas, apenas para ter a certeza, de que você estaria sempre comigo.
Pudera, por mais que lutemos contra esse sentimento avassalador, nunca saímos intactos. Eu não estou ferida, não estou calada. Acho que, desse combate perdido, meu 'castigo' foi estar apaixonada de uma forma jamais sentida.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Strange love, stolen, unforgettable'

É impressionante como a ansiedade agora domina cada partícula do meu ser. Angustia azeda revirando-se cada vez que encontra um vestigio de amor em minhas entranhas. Gira de leve, como se cada espaço se tornasse mais vazio à medida que desconhecia nossa realidade. Sabe, é impressionante como com tão poucos olhares descobri teus segredos, tuas manias... E o que mais me admira é que, da mesma forma que eu tão bem te conheço, sei que você sabe o que se passa em minha mente apenas analisando as linhas de meus sorrisos e os principais focos dos meus olhares.
Incrivelmente eu acho que agora eu só preciso do teu jeito meio virado, imperfeito, levado, levando-me contigo em teu embalo doce. Mostra-me, sem medo, teu melhor, tua paixão. Mostra-me que não quer mais o passado ao teu lado. Revela, sou seu futuro, sua eternidade. Vem comigo, segura firme em minhas mãos, olha nos meus olhos e diz que vai continuar assim. Olha, pede, fala, grita, vamos tentar!
E continua, como se caíssemos em um poço, sem beiras para apoiar nossos desejos. Desejos que falam alto, desejos que não ocultamos. Eu preciso de você aqui, comigo, agora, amanhã, sempre.
Não sei o que todas as pessoas ao meu redor pensam sobre a situação, e acho que pela primeira vez em minha vida não estou vivendo presa a filosofias de vida já impostas, estou aventurando, provando de um saber agridoce que eu ainda não conhecia. E não há nada no mundo para conter meu sentimento, muito menos a radiação que ele me transmite. Agora tenho meu constante companheiro para sempre me ensinar algo. Meu melhor companheiro, meu amor. Amor roubado, amor sonhado, amor errado, amor real.

quarta-feira, 16 de março de 2011

The light in my dark sky...

Era como o sol da manhã, brilhava entre as nuvens, com aquele mesmo sorriso de sempre, o olhar parecia radiar mais do que de costume – haviam pontadas de nossa costumeira saudades, movida por olhares banais que sempre acabavam em sorrisos. Não sei o motivo, mas sinto uma espécie de esperança de que algo havia de ser declarado. Ainda que todas as palavras não conseguissem sair, era algo inevitável. Conhece o céu, certo? Pois bem, existe céu bonito, tão bem criado, com suas colorações avermelhadas dançando com outros tão diferentes tons acinzentados de chuva. Um necessita doutro. Não existe beleza, se ambos não estiverem ligados a algo surreal. É chamado de amor, por mim, para mim e por você.
Você é semelhante as cores mais brilhantes ali pintadas. Possui um efeito de "pôr do sol" sobre mim, pois você, aos meus olhos, funciona como algo tão encantável que torna-se impossivel parar de admirar. Acho que é assim que te vejo. Como uma boa companhia para quando eu mais precisar, como um porto seguro talvez. Você é como os raios solares que insidem sobre uma cerejeira, pois o sol é responsável por deixá-la viva. E acho que é isso que se passa em minha mente agora. Você me deixa mais viva, mais feliz.
Naquele dia, cantei, brilhei, criei minhas fotografias imaginárias com cores quentes e radiantes. Naquele dia, queria poder passar para tudo a vida que estava dentro de mim, queria poder deliciar de uma forma mais lenta a sensação de paixão, mas me contive. Passei a euforia, e a vida para minhas histórias e meus retratos. Mesmo eu, que sempre fui como a parte acinzentada do céu, que presume as piores tempestades do inverno, consegui radiar aquele dia. E tudo isso graças a você. Ao teu olhar, ao teu sorriso, as tuas palavras.
Sabe, as vezes eu fico imaginando como seria se eu pudesse te falar sobre isso. Eu penso, até tento esticar minhas mãos, mas não consigo, sinto-me atada em palavras que não saem. Talvez você nunca tenha a oportunidade de escutá-las. Sinto receio e uma certa melancolia em pensar que de tudo o que hoje existe, pode perecer amanhã apenas pelo meu medo. Porém por outro lado, eu sei que posso desfrutar dessa deliciosa sensação por mais um tempo. Um longo período quem sabe. Talvez você também esteja nesse transe em segredo. São tantas as possibilidades que minha imaginação viaja longe, me mostrando diferentes caminhos a serem seguidos.
É impressionante como quando agimos com o coração não nos damos conta de nossos atos físicos. Quando estamos envoltos nessa série de sentimentos estranhos que se baseiam na palavra "paixão" pensamos de uma forma diferente, vemos o mundo de uma forma diferente. Enxergamos a beleza no que antes parecia rotineiro, vemos o melhor lado da situação, por mais subjetivo que isso possa parecer.
E hoje, quando acordei, exitei por alguns segundos, e devido a certo receio tentei permanecer na cama pelo máximo de tempo possível. Por mais que eu negasse para mim mesma, sabia que estava inspirada, porém não concentrada. Há muito tempo que nada me fascinava tanto quanto essa sensação, pois não a sentia, nem sei se ainda sabia como se sentia, e tamanha era essa surpresa, esse fascínio, que eu perdera a noção do tempo, nada mais conseguia me distrair, nada era forte o suficiente para tirar o sorriso de minha face e sua imagem de minha mente, era como se... Era como se eu me sentisse viva novamente. Reproduzi várias vezes em minha cabeça a cena vivida há tanto tempo já, enquanto observava o sol tomar conta do céu. Relembrava os mínimos detalhes, relembrava suas linhas de expressão, por mais simples que fossem. O contorno de sua mão, minhas fotos imaginárias, seu olhar amendoado, seu sorriso morno... Eu não cansava de reviver, de ressentir tudo isso. Não entendo ainda se fora coisa de minha cabeça ou outra opção qualquer. Não sei também se alguém saberia definir com exatidão e precisão o que esse conjunto de sentimentos significa, ou se é realmente sentido. Continuei ali, esparramada por entre os lençóis fitando o teto e envolta em sentimentos que jamais saberei se tinham – ou não – algum ponto de razão.
Talvez por alguma intervenção do destino eu terei, pelo menos a chance de vê-lo mais uma vez... Queria falar sobre o que eu pensava, sobre o que supostamente sentia. Por alguns instantes ainda, hoje pela manhã, apenas fiquei ali, idealizando novos encontros, perfeitos por sinal. Eu sabia que eles jamais viriam a sair de minha mente e tornarem-se realidade, mas esse era um jeito, o único talvez, de eu o sentir mais perto de mim. “Céus!” pensei. “Pareço uma criança!”, disse em voz alta sorrindo. E nesse instante me levantei. E pulei. E rodei. Joguei-me no carpete a frente da janela da sala e pela primeira vez naquela manhã, encarei as folhas da minha velha cerejeira, que dançavam no ritmo suave da brisa pós-chuva de verão. Ainda com um resto de riso na boca, peguei meus livros, e sai. Porém antes, guardei dentro do meu baú - agora aberto - uma fotografia colorida, uma fotografia simples, mas que possui a mesma essência que a felicidade.

And after the goodbye... I'm here, again'

Antes de mais nada é necessário explicar como surgiram todas essas lembranças. De pouco recordo datas exatas, horas exatas, momentos exatos. Apenas conto tudo aquilo que um dia deixei guardado nas caixas antigas, aquilo que um dia esteve gravado na pedra de minha memória. Hoje entre os pequenos fragmentos de papel, encontra-se também poeira, lágrimas que foram recolhidas, e marcas de diálogos que um dia sonhei. Típicas palavras que nunca saíram, guardadas em todos os lugares, em letras miúdas, que se transformaram na minha história. Não sei dizer se é exatamente a minha história, ou se meus manuscritos baseiam-se apenas naquilo que desejei chamar de 'Minha Hisória'.
Hoje, estive revirando meu baú. Meu antigo baú de sonhos e encontrei ali passagens que, mesmo já tendo as contado, não estavam mais em minha mente. Vi sinais de algo que nunca tive, pessoas que estavam em minha vida e acabei perdendo com o passar das conversas. E pessoas que um dia, encontrei na rua e transformei em parte de minha vida. Quem sabe, você pode estar aqui, entre pequenas e inusitadas manias que se transformaram em todo esse meu particular universo paralelo.
Pouco me lembro. Ás vezes observo os retratos que, - retirados do fundo de meu baú - e espalhados pelo longo corredor,  me pergunto se um dia já fiz parte deles. Me pergunto quem são as pessoas que fizeram parte deles. Vejo alguns retratos negros, onde a escuridão não me permite identificar faces, ou expressões. Vejo retratos claros demais, que, de mesma maneira não me permitem lembrar o momento que os construi. Penso se aquela com os cabelos sedosos e olhos brilhantes, realmente era eu. Tenho saudades de quando ainda tinha controle, não só de minha vida, mas de todos aqueles que apareciam nas fotografias. Observo então o meu reflexo no espelho, e lá estou – com meus cabelos, agora escorridos de forma desparalelada, meus olhos, com o mesmo formato porém não mais o mesmo brilho, e um sinal de sorriso morno escondido entre a falta de maquiagem.
Sinto medo, angústia, e o nó guardado há tanto tempo em minha garganta seca. É, eu sabia que o sentiria ao abrir meu baú, mas era necessário. Arranha de forma como se já fosse costumeiro, tento ignorar.
Continuo procurando entre as caixas, tudo o que poderia ser útil para escrever essa história, mas encontro apenas as mesmas palavras, as mesmas lembranças de noites que caminhei sozinha, ou de noites que estivesse embalada por qualquer  pensamento inútil, ou ainda, banhada em meu próprio oceano salgado de lágrimas desperdiçadas. Leio os diários que escrevi durante todas as vezes que me senti como se estivesse sob poder de substâncias alucinógenas, ou, em outros, das vezes em que escrevi o quanto me sentia bem vendo o céu azul celeste que tanto admiro. Em um deles, comento sobre as telas escuras de meu quarto. As folhas de papel rasgadas pelo chão com minhas melhores composições, as cortinas fechadas, e eu, em minha poltrona azul, chorando com o cabelo nos olhos. Deparo-me com o fato de que estou sentada agora na mesma, e dessa vez, a sala iluminada pela luz natural, a mesma poltrona azul no canto esquerdo servindo me apoio para meu violão vermelho contrastando, e minhas novas e claras telas de tinta comum, transformaram meu ambiente de forma que não parece mais tão assustador assim.
Sentia-me sozinha nessa época ruim porém estava acostumada com o fato. Certas pessoas não nascem para amar – alguém disse isso uma vez. Não me lembro não me lembro de nada.
Gostaria de explicar melhor do que se trata essa minha louca desventura sonhada, apenas não encontro palavras exatas para descrevê-la. Com o passar do tempo, - e quanto tempo! - minha arte de dominar as palavras também acabou por se corromper.
Tento lembrar exatamente como vim parar mais uma vez nesse lugar, que agora me parece tão estranho entre tantas caixas e fotografias. Apenas recordo de estar deitada em minha cama e de sair caminhando pela casa, enquanto refletia sobre nossa despedida. Hoje, doeu como nunca, ardeu em todas as partes de meu pequeno e agora tão frágil corpo. Encontrei cada diário em um cômodo da casa, jogados pelos cantos, entre as mobílias desgastadas. Alguns pedaços de cartas e papéis com anotações dentro deles. Cada palavra parecia me corroer mais profundamente, como se estivesse numa louca expedição para conhecer melhor cada parte de minha essência. Confesso que no começo tive medo de lê-los, poderia me deparar cada vez mais, com as partes podres que falavam das coisas que fiz por amor. Só então depois de juntar todos os diários, todas as cartas e todos os pedaços de papéis escuros e rasgados, cheguei ao meu baú. E o abri. Mais uma vez depois de tanto tempo. Mais uma vez sinto lágrimas rolarem em minha face ao me deparar com as fotografias, mas dessa vez pelo menos, sei que me sinto vitoriosa por ter vencido esse combate comigo mesma.
Recolho então o último pedaço de papel, preso ao espelho no final do corredor. "Você ainda vai viver, sem sua própria mentira". Duas lágrimas caem sem que perceba, escorrem faceiras em minha fronte. Consigo sorrir novamente. Agora, eu vivo sem minha própria mentira, e sem a mentira dos outros.  
Depois de conseguir juntar todos os fragmentos de bilhetes, histórias e fotografias, e de jogá-los aqui, esvaziei meu baú, jogando ao vento tudo o que estivera trancado, e que me fizera tão mal por todo esse tempo. Agora, meu baú está aberto. Mais uma vez esperando as novas fotografias, os novos bilhetes... Esperando a nova vida que eu ali, vou guardar.